3.31.2011

Mas, o que é a memória?

O elefante lembra de tudo o que aprende, e por isso constitui uma das principais atrações dos circos. Sabe-se, por exemplo, que os originários da Índia, quando devidamente adestrados, não só reconhecem como também obedecem a mais de cem comandos.que lhes são ensinados pelos treinadores numa língua específica para esse fim, provavelmente derivada de um idioma antigo, anterior ao hindu.

Apesar disso, foram poucos os estudos feitos até agora sobre essa sua aptidão memorial. Em um deles, cientistas da Universidade de Sussex, na Inglaterra, estudaram as fêmeas de manadas cujo habitat é o Parque Nacional Amboseli, no Quênia, gravando e testando os sons emitidos por mais de cem indivíduos do mesmo grupo, alguns deles separados dos demais já por alguns anos. Os animais testados reconheceram os sons apresentados, confirmando não apenas sua boa memória, mas demonstrando também a importância dessa capacidade para a organização social e até mesmo para auxiliar sua conservação.

Mas, o que é a memória? Sua definição mais simples é de que se trata de uma função do sistema nervoso que compreende a aquisição de informações, ou aprendizado; seu armazenamento, ou conservação; e a evocação das mesmas, ou recordação. Quanto ao tempo de duração, ela pode ser classificada como de curta duração, (de alguns minutos a poucas horas) e de longa duração (de dias a anos). A doutora Daniela Marti Barros, professora de farmacologia do Departamento de Ciências Fisiológicas da Fundação Universidade Rio Grande - FURG-RS, esclarece que “Embora possamos armazenar tantas experiências quanto possível, podemos dizer que tão importante quanto o armazenamento de informações é o seu esquecimento. O fenômeno do esquecimento é fisiológico e desempenha um papel adaptativo. (...) No entanto, quando o esquecimento é patológico, e prejudica de maneira irreversível a vida cognitiva do indivíduo, estamos diante de um quadro de doença neurodegenerativa".

A doutora também afirma que “Diferente das memórias esquecidas são as memórias extintas, que permanecem latentes e não são evocadas a menos que ocorra uma circunstância especial, como a apresentação do estímulo utilizado para adquiri-las. (...) As memórias extintas podem ser evocadas; as esquecidas, não”.

E finaliza afirmando que “Mesmo que nos últimos quinze anos o estudo dos processos cognitivos tenha apresentado avanços marcantes, muito nos cabe pesquisar para desvendar os mistérios que envolvem o entendimento da memória”.

Mas se o conhecimento da memória humana necessita ainda de muita pesquisa para que seus mistérios sejam corre-tamente avaliados, o que se poderá dizer da dos animais?

Em www.animalplanetbrasil.com encontra-se a informação de que “Vários tipos de pássaros migram, às vezes viajando milhares de quilômetros. O migrante mais im-pressionante é a andorinha-do-mar ártica, que procria no norte do Círculo Ártico, mas voa quase 18 mil quilômetros para o sul, em direção à Antártica, quando chega o inverno no norte. Muitas espécies de patos, gansos e cisnes migram da Região Ártica para a Europa, Ásia e América do Norte durante o inverno, retornando para o norte novamente, durante a primavera, para procriar. Até mesmo aves minúsculas migram, como o beija-flor. O beija-flor-de-pescoço-vermelho (Archilochus colubris) voa mais de 800 quilômetros, do litoral sul da América do Norte à Península Yucatan no México, onde ele se alimenta de flores durante os meses mais frios do inverno. Os cientistas ainda não têm certeza absoluta sobre o que causa a migração das aves. Sabe-se apenas que a duração do dia a velocidade, a direção do vento e mudanças hormonais desempenham papel importante. Como os migrantes encontram com exatidão o caminho para suas casas temporárias, também é uma incógnita. Alguns estudos sugerem que elas usam o sol e as estrelas para navegar, contando também com detalhes da paisagem. Acredita-se que alguns pássaros sigam os campos magnéticos da Terra, o que os ajudaria a se orientar em paisagens monótonas e em alto mar.

O Projeto Tamar - Programa Brasileiro de Conservação das Tartarugas Marinhas (www.tamar.org.br) esclarece que as tartarugas marinhas são animais migratórios por excelência, viajando milhares de quilômetros entre as áreas de alimentação e as praias de desova. Devido a esta grande habilidade migratória, conseguem retornar a praia em que nasceram quando atingem a maturidade, para se reproduzir. Pesquisas para melhor entendimento de como as tartarugas marinhas migram têm sido realizadas por cientistas durante décadas, mas como elas são solitárias e permanecem submersas durante muito tempo, isso dificulta o estudo do seu comportamento, embora décadas de acompanhamento tenham proporcionado observações úteis de suas atividades reprodutivas, como cópula e postura. Em mar aberto, as tartarugas marinhas encontram fortes correntes, mas mesmo com estas limitações são capazes de navegar regularmente por longas distâncias para encontrar suas praias de desova. Os mecanismos de navegação que as permite sempre reencontrar seu destino são ainda um grande mistério, estudado por várias gerações de pesquisadores.

Por sua vez, as baleias jubarte iniciam sua migração da metade do outono em diante, quando as águas começam a congelar na Antártica, à procura das águas mais quentes de Abrolhos, no Brasil, onde poderão acasalar e reproduzir. Lá elas permanecem de julho a meados de dezembro, quando retornam à Antártida, aonde viverão durante o período de onze meses da gestação, findo o qual voltam novamente a Abrolhos para terem seus filhotes. Esse procedimento é motivado basicamente por três fatores: temperatura da água elevada; região de baixa profundidade e águas calmas; e ainda a ausência de orcas, que são suas predadoras naturais.

Diante desses exemplos, surge a pergunta: será que o elefante é, realmente, dono de uma memória privilegiada? Ou algum outro animal, como o cão, desenvolve de forma mais completa essa capacidade de armazenar informações e lembrar-se de-las sempre que necessário?


FERNANDO KITZINGER DANNEMANN
Publicado no Recanto das Letras em 15/05/2007
Código do texto: T488406

Nenhum comentário:

Postar um comentário